
Expediente
Expediente, de André Sanches, reúne fotografias realizadas na região central de Curitiba, entre o fim da tarde e o início da noite — um intervalo em que a cidade muda de ritmo e de luz.
O projeto, desenvolvido entre 2017 e 2025, observa o espaço urbano a partir da relação entre corpo, arquitetura e tempo, revelando como o cotidiano se repete e se transforma nos gestos anônimos das ruas.
A exposição e o livro têm curadoria de Guilherme Zawa e foram realizados com apoio da Fundação Cultural de Curitiba e do Instituto de Oncologia do Paraná.
Lançamento e abertura da exposição
16 de novembro de 2025 · 11h – Memorial de Curitiba – Salão Paraná
Curadoria: Guilherme Zawa Incentivo: Fundação Cultural de Curitiba · Instituto de Oncologia do Paraná
EXPEDIENTE, de André Sanches.
O que resta de nós quando a utilidade termina e se esconde por trás dos gestos burocráticos do cotidiano, da espera na fila no ponto de ônibus no final do dia útil, da noite que enseja o final do expediente e a promessa de mais no dia seguinte?
As fotografias de André Sanches não tratam do que foi concluído, mas do que está suspenso pelo funcionamento do mundo, revelando o íntimo em momentos hesitantes, iminentes nas camadas da imagem, na textura do tempo, no eco das ações repetidas.
Sanches opera como investigador de gestos abdicados, preteridos, e observa o que o momento não demonstra. As portas fechando e a luz elétrica que irradia no lusco-fusco são o punctum. Nos termos de Roland Barthes, esse acidente que fura a superfície da imagem e nos atinge, não no intelecto, mas no corpo, feridas poéticas que rompem o studium da cidade. Difere do documento e nos convida a não ler o conteúdo, mas a decifrar a alma material desses momentos, sua frieza, seu desgaste, sua melancólica presença.
Sanches observa o momento do inacabado, do provisório, do analógico, do áspero, cheio de falhas e marcas; o expediente é viral, não virtual. É a força do negativo, do conflituoso de todo dia, o fim da positividade lisa e falsificada. É a pressa, a chuva, o acidente, o paradoxo, o tabu. A bolha furada do espírito da época.
EXPEDIENTE é, portanto, um anti-expediente. Sanches flana para não catalogar ou compreender, mas segue as pistas de fantasmas contidos em estruturas contenedoras. O ato fotográfico aqui é um lento ritual de desaceleração, um convite a tocar o tempo, a perder-se nos corredores de uma memória que será nossa, apesar de nossa distração, mas que, quem sabe, um dia, nos reconhecerá. Sanches nos entrega o estado de poesia severa e comovente de tudo aquilo que o mundo pragmático decidiu que já não servia para nada e o que se esconde na espera solitária do transeunte que atravessa a rua em direção ao futuro.
Guilherme Zawa, Curador.





