Expediente — em exibição no Memorial de Curitiba até 22/02/2026
A exposição Expediente, de André Sanches, está em exibição no Memorial de Curitiba – Salão Paraná, apresentando fotografias realizadas na região central de Curitiba entre o fim da tarde e o início da noite, no período de 2017 a 2025.
O trabalho observa a cidade a partir de seus fluxos coletivos –– gestos, deslocamentos, encontros e esperas que se repetem diariamente e revelam camadas do cotidiano urbano. As imagens registram como luz, movimento e arquitetura se transformam nesse intervalo entre dia e noite.
A mostra acompanha o lançamento do livro Expediente, publicado pela Editora Voar.
Curadoria: Guilherme Zawa
Coordenação: Lucas Pontes
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Em exibição até 22 de fevereiro de 2026.
Local: Memorial de Curitiba – Salão Paraná
Endereço: R. Claudino dos Santos, 79 – São Francisco
Horário de funcionamento:
– Terça a sexta: 9h às 12h e 13h às 18h
– Sábados, domingos e feriados: 9h às 15h
EXPEDIENTE, de André Sanches.
O que resta de nós quando a utilidade termina e se esconde por trás dos gestos burocráticos do cotidiano, da espera na fila no ponto de ônibus no final do dia útil, da noite que enseja o final do expediente e a promessa de mais no dia seguinte?
As fotografias de André Sanches não tratam do que foi concluído, mas do que está suspenso pelo funcionamento do mundo, revelando o íntimo em momentos hesitantes, iminentes nas camadas da imagem, na textura do tempo, no eco das ações repetidas.
Sanches opera como investigador de gestos abdicados, preteridos, e observa o que o momento não demonstra. As portas fechando e a luz elétrica que irradia no lusco-fusco são o punctum. Nos termos de Roland Barthes, esse acidente que fura a superfície da imagem e nos atinge, não no intelecto, mas no corpo, feridas poéticas que rompem o studium da cidade. Difere do documento e nos convida a não ler o conteúdo, mas a decifrar a alma material desses momentos, sua frieza, seu desgaste, sua melancólica presença.
Sanches observa o momento do inacabado, do provisório, do analógico, do áspero, cheio de falhas e marcas; o expediente é viral, não virtual. É a força do negativo, do conflituoso de todo dia, o fim da positividade lisa e falsificada. É a pressa, a chuva, o acidente, o paradoxo, o tabu. A bolha furada do espírito da época.
EXPEDIENTE é, portanto, um anti-expediente. Sanches flana para não catalogar ou compreender, mas segue as pistas de fantasmas contidos em estruturas contenedoras. O ato fotográfico aqui é um lento ritual de desaceleração, um convite a tocar o tempo, a perder-se nos corredores de uma memória que será nossa, apesar de nossa distração, mas que, quem sabe, um dia, nos reconhecerá. Sanches nos entrega o estado de poesia severa e comovente de tudo aquilo que o mundo pragmático decidiu que já não servia para nada e o que se esconde na espera solitária do transeunte que atravessa a rua em direção ao futuro.
Guilherme Zawa, Curador.















